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Os velhos deixaram de ser valiosos... mas não para mim!

Sempre achei que os velhos ditados eram aborrecidos e que nunca, jamais, em tempo algum, iria dizer coisas como "eu sou do tempo em que....". Mas... "Eu sou do tempo" em que se respeitavam os mais velhos sob pena de levar uma costa de mão bem assente no chamado trombil.

Hoje, cabe-me ensinar a minha filha de 8 anos e o meu bebé de 17 meses que: a idade é um posto e é para ser respeitada. Seja pai, avô, professor, ou transeunte na rua, não me interessa. Se é mais velho, merece respeito. Ponto final.

Tenho todo o orgulho na minha filha que, tantas vezes, mesmo antes da pandemia, parava no passeio estreito da Rua de Santa Marta em Lisboa, à espera que as senhora de idade conseguissem passar em segurança. Nunca lhe disse para ela fazer aquilo, talvez o tenha feito algum dia e, claro, eles aprendem por imitação. Mas, um certo dia, distraída, disse-lhe: "Maria, filha, mexe-te por favor! Estás parada a fazer o quê?". E ela, arreliadíssima, respondeu: "Oh mãe, por amor de Deus, espera pela velhinha que o passeio é tão pequeno que a Senhor ainda cai para o meio da estrada!".

Orgulho... 

Hoje, depois das minhas entregas matinais, parei num Pingo Doce para tomar o pequeno almoço. Entrei de máscara, claro, tirei a senha do Café e Bolos e aguardei longe das pessoas que me chamassem. Quando chegou a minha vez, o rapazola proferiu o meu número em alto e bom som e, quando me cheguei ao pé do balcão para ser atendida, uma velhinha, com os seus 80 anos, aproxima-se - com a senha da padaria com o mesmíssimo número - e diz: "bom dia menino, quero só duas bolinhas por favor".

O desprezo com que a filou foi tamanho que me enjoou desde logo. "Pode se faz favor esperar que eu atenda a cliente que está primeiro??". A Senhora olhou atrapalhadíssima para mim e acenou com a cabecita... olhei-o de frente com o ar mais ameaçador que consegui fazer e disse: "sabe que esta senhora tem prioridade? Pode atender, eu deixo. Aliás, eu faço questão e o Sr. também deveria fazer!".

A mulher desfez-se em agradecimentos e eu apenas lhe disse que não fiz mais que a minha obrigação. Muitos diriam: "pois mas nem todos os velhos são bem educados e alguns fazem-se valer de ser velhos para ser mal educados e passar sempre à frente". Talvez. Sei lá eu o que farei quando for velha. Sei lá eu se alguma vez chegarei a velha... porra!

Sei que a minha educação e, agora mais que nunca, tanto me faz. O rapazola estava a chamar senhas de Café e Bolos no balcão da Padaria. Até eu me baralhei, quanto mais ela. Ela deveria estar em casa, à espera que um vizinho com a minha saúde lhe levasse a porcaria do pão... mas não. Estava ali, sozinha. E eu só me lembrei da minha avó...

Por favor, cuidemos uns dos outros..... vá lá! 

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