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Se não morrermos de Covid, vamos morrer de fome, de depressão, de desespero, de insanidade ou de outra coisa qualquer!

Quando criei este blogue, a minha intenção era clara: partilhar um mundo insólito - na grande maioria das vezes - de experiências da minha vida / montanha russa. E sim, perspectivei escrever pelo menos e no mínimo dos mínimos, um post por semana. 

Depois, a minha (e a de todos nós, sem qualquer excepção - digo eu) vida foi atropelada pelo Covid-19 e as coisas não são bem assim. Os post são começados, ficam em rascunho e a falta de motivação manifesta-se, na grande maioria das vezes, no simplesmente não publicar.

Já pensei que são posts descabidos, já pensei que dizem demasiadamente de mim, do que me vai lá bem no fundo da alma, já pensei, também, que não faz sentido escrever porque me queixo de "pança" cheia, quando há tanta miséria neste momento por aí...

Mas pronto. Hoje decidi que sim, que vou até ao fim com esta publicação, soe como soar, pareça bem ou mal. Não sei quantas voltas o mundo já deu desde o confinamento, o início desta pandemia. Sei que fomos todos completamente atropelados, dizimados, chacinados, massacrados... e sei lá mais eu o quê, por isto, que nem ser vivo é, como diz uma grande amiga minha: um Walking Dead maldito que nos come vivos.

A sensação que tenho é que deixei de ser eu. Passei a ser um robô, uma máquina. O mundo desmorona-se à minha volta, eu caio no chão, choro, grito, esperneio, não entendo, revolto-me, penso que quero desaparecer e ir lá para cima, para junto da minha querida avó Mina, mas depois, paro, chamo-me nomes, porque afinal de contas tenho saúde - até ver - tenho a vida que muitos gostariam de ter e portanto sou absolutamente inconsciente por cair no chão, lastimando-me de nada. Seco as lágrimas, agito os ombros, levanto-me e continuo, como se ignorasse o que se passa à minha volta, incorporando apenas e tão-somente esta personagem de máscara na cara, álcool no bolso, lixívia à mão e metros contados até ao próximo ser humano com que me cruzo. 

Os meninos voltaram à escola, eu regressei fisicamente à empresa, a vida retomou o seu rumo em nome da economia. Mas eu não sou, nem creio que alguma vez possa voltar a ser a mesma. E explico-vos porquê. Não foi o zombie, foi o impacto que ele teve e o que ele nos conseguiu mostrar até agora.

O mundo não mudou. Apenas parou por uns meses. As pessoas não ficaram melhores, mas sim piores, umas com as outras, e com o planeta - que é, na verdade, a única coisa que temos, mas que fazemos por matar todos os dias. Os valores dissiparam-se, ainda mais do que antes do Covid, o dinheiro continua a gritar mais alto do que qualquer outra coisa e o Amor começa a parecer-me um perfeito disparate que um dia, conta-se, existiu no mundo onde vivemos. Mas que ninguém sabe ao certo o que foi, ou se foi real. Com ele, a Compaixão, a Sinceridade, a Complacência, e tantos outros que eu pensava reactivados em força com o susto da pandemia. 

Só que não. E estou absolutamente esgotada, cansada, passei coisas que nunca pensei estes últimos meses, sacrifiquei coisas que tomava como certas e garantidas e, hoje, 7 meses depois de Portugal ter percebido que não está protegido na ponta da Europa, vejo a vida afunilar-se à minha frente. Mas, contrariamente às outras vezes, não está nas minhas mãos, não posso controlar, não depende de mim. Eu, que programava cada segundo dos meus dias, semanas, meses e anos. Vivo um dia de cada vez, sempre bem disposta e a rir, tentando esconder de mim mesma o pânico por tudo o que ainda está por vir e que tantos continuam a ignorar, vivendo em negação. A cada fecho de mês, a cada caso descoberto do tio da prima do vizinho aqui da rua abaixo, sinto que, mais cedo do que mais tarde, esta coisa vai-nos apanhar a todos. 

E não, não morrerei disto se Deus quiser. Mas eu já não sei, ou já não acredito dentro do meu coração, que daqui a uns meses - Março, acredita a maioria - isto está controlado e, mais, eu estarei de pé com as contas de pé, com os meus filhos alimentados... simplesmente estou, novamente, no registo de alma que tinha quando me senti arrebatada com a novidade de tudo isto.

Não sou polícia, bombeiro, médica, enfermeira, ou outra coisa qualquer... esses que estão na frente da batalha, completamente exaustos, descrentes, fartos, desmotivados, esses sim estão mal... eu estou bem. Mas também estou cansada, hoje especialmente... 

As medidas são contraditórias, os próximos dois meses serão violentos para todos nós... e eu só queria trabalhar, para ganhar o suficiente para alimentar as minhas duas crias. Nada mais. Porque eu converto-me ao minimalismo, não preciso de comer comida de ricos, nem de ter 200 pares de sapatos, eu não quero sair à noite, nem fazer festas de anos bombásticas. Eu só quero trabalhar, todos os dias, honestamente, abraçar os meus pais, os meus sogros, sem ter medo de os matar (o meu pai que é tão doente...), abraçar os meus compadres, padrinhos dos meus filhos que escolhi com tanto amor (Belga, Pablo, Micas, Raquel, Manu, John, Marisocas e Noronha, sinto tanto a vossa falta), abraçar os meus amigos que são a família que eu escolhi (vocês sabem quem são... família Zagalo, Pimenta, Lopes, Costa, Ascenso, e tantas outras).

Eu quero apenas e tão-somente abraçar os meus filhos ao recolhê-los na escola e nesse momento, poder beijá-los sem máscara na cara! Quero apenas dormir sem pesadelos, não ter de optar entre o meu vencimento e a continuidade da minha empresa em equilíbrio. 

Rogo a Deus, a Alá, a Buda ou seja lá a quem for: olha por nós... por favor. Faz de nós seres humanos e não máquinas. Porque eu não sei se aguento isto por muito mais tempo.

 

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