Tenho tido alguma dificuldade em escrever. A minha cabeça parece uma bobine de película de filme descontrolada, a girar no suporte sem se fixar em nenhuma frame... e já com a fita toda enrolada em si mesma.
A minha cabeça dói e parece um molho de bróculos.
Durante meses, ansiamos pelo final de 2020, aquele que viria a ser o pior ano das nossas vidas, achávamos nós, a poucos dias do seu fim.
O 2021 já nos mostrou que talvez o seu antecedente tenha sido apenas uma introdução, apenas uma amostra de preparação para A lição a aprender com tudo isto. As coisas não estão nada melhores e, pese embora se continue a ver na vacina uma saída airosa para todos nós, eu continuo a achar - eventualmente numa postura teimosamente pessimista - que a vacina será uma boa ajuda, mas não dependerá da sua aplicação o ficarmos todos, finalmente, bem e a salvo.
Continuo confusa, sem ter uma opinião formada acerca de tudo isto. Tenho uma visão leviana e vira casacas das coisas, ainda hoje publiquei na rede esta preocupação cá do fundo... não quero confinar, preciso de trabalhar para garantir a subsistência dos meus meninos, para garantir que consigo manter de pé a minha empresa, património criado com tanto esforço, suor e lágrimas do meu grande pai. Não quero ir para casa, confinar, porque se não trabalhar agora, não será mais velha que o farei, certamente! Caramba, esqueçam o confinamento, deixem-me trabalhar por amor de Deus. Mas quero pois! Porque os hospitais, os médicos, os enfermeiros, auxiliares e afins não vão aguentar isto. E seremos muitos mais infectados, muito mais do que os assustadores 10 mil ao dia, seremos muitos com sequelas, serão muitos os que morrem das suas outras doenças por falta de assistência, se é que não morremos todos, porque eu duvido que os da linha da frente aguentem muito mais tempo...
Quero que fechem as escolas, porque não me faz sentido que todos estejamos em confinamento menos os mais novos. Se estou confinada e tenho de ir levá-los e buscá-los, qual é o sentido? Li hoje numa notícia que os miúdos estão sanitariamente mais seguros na escola? Mas como? Fechem tudo, já! Mas... tudo não, as escolas não! Porque isso é levar-nos à loucura de novo! Como trabalho com duas crianças em casa? Como apoio a mais velha? Como aguentam eles mais isolamento dos amigos, dos professores?
Portanto, confinem, mas não confinem, fechem as escolas, deixando-as abertas, enquanto eu vejo no baú das minhas "notícias do fundo" se percebo o que sinto, o que quero...
Hoje é domingo. Piloto automático, já, porque amanhã começa uma nova semana. A semana em que iremos confinar de novo. E, à semelhança do que sucedeu anteriormente, eu não vou parar para pensar se estou a sofrer, se me custa ou não! Vou simplesmente reforçar - ainda mais, se é que tal é possível - os meus cuidados, vou trabalhar como e da forma que puder, tanto quanto puder, para garantir que me mantenho à tona de água, vou continuar a desinfectar tudo em casa que nem uma maluca... e no fim, quando daqui a.... um tempo, tudo isto acabar, quando finalmente, me conseguir sentar à beira mar, com os meus amigos de quem tanta falta sinto, os meus familiares que tanto me esvaziam com a sua ausência, a olhar para o pôr-do-sol, a beber gin, olharei para trás e pensarei se custou ou não.
Entretanto tu, que fazes parte de mim, da minha história de vida, "dá notícias do fundo", para eu sentir que continuas aqui...
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