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Descobrir O sentido num mundo virado do avesso

Tempos estranhos estes que vivemos. Tenho a cabeça a mil. Esta noite sonhei que estava em Santos, a ver uma casa para morar. Era uma casa enorme, ampla, no meio de um jardim cheio de pinheiros altíssimos. Mas em Santos, Lisboa. Parecia que tinham roubado um pedaço da Serra de Sintra e o tinham plantado ali, no meio de Santos só para nós.

Lembra-me que a sala tinha um enorme pilar bem no meio, paredes azul turquesa - vai-se lá perceber - uma lareira de lenha enorme e o tecto de vidro, por onde se via o topo dos pinheiros. Era meia oval, esta casa. E entrava-se logo directamente para esta sala gigantesca que depois dava acesso aos quartos. Só me lembro da sala. E lembro-me de estar desconfortável dentro dela, ainda que a achasse lindíssima e perfeita para os meus dois filhos crescerem.

No momento em que estávamos a ver a casa, havia sempre muita gente a entrar e a sair. E recordo-me de pensar que, caso comprasse aquela casa, tinha de vedar tudo em volta para que quando lá estivéssemos não houvesse pessoas a entrar e a sair. Que estupidez. Depois, lembro-me de termos saído para vermos um anexo qualquer desta casa, no qual tínhamos de entrar através de uma mini-portinha super pequenina, no cimo de 3 degraus. E quando lá chegamos, percebi que havia dezenas de ingleses a sair, pela mesma porta por onde agora nós estávamos a entrar.

Vocês não estão a perceber. Instalou-se o pânico. Eu, dentro do meu sonho, levo a mão à cara e percebo que estamos, eu e o Pedro, numa multidão de ingleses, sem máscara. E desato aos gritos qualquer coisa do género: "amor, fogeeeeeeeeeeee!!!!!!!! Estamos sem máscara!!!!!!!!!! Olha a estripe, fogeeeeeeeeeeeee". E acordei, bem no momento em que percebo que tinha acabado de ficar infectada.

Depois de despertar, ainda com os olhos fechados, e nada consciente, creio eu, pensei rapidamente: ok, já não posso, mesmo que queira, ver os meus pais. E agora ligo para a S24? E acordei, finalmente, de olhos bem abertos, de coração a saltar a ponto de o ouvir na minha garganta... foi só um sonho, Sílvia, calma, respira. Sou a única?

Nos últimos tempos, temos assistido a um manancial de informação e contra-informação. São testes negativos falsos, testes positivos que afinal são negativos no dia seguinte, são vacinas que fogem para locais onde não deveriam estar, são pessoas que se filmam a passear em marginais sem máscara, revoltadas porque a polícia as quer autuar, são amigos infectados em casa, outros na linha da frente, são apoios que não chegam a todos, são novas estirpes, são picos que nunca mais se passam, e continuamos ao fim de um ano neste nhó-nhó-nhó, a destruir o mundo como o conhecemos. Sem culpa... acho eu.

O segredo para sobreviver a tudo isto? Não sei, mas eu quero acreditar que o meu propósito é descobrir O sentido no meio deste mundo virado do avesso. O meu propósito é tornar-me numa pessoa melhor. Aprender, crescer com tudo isto. O meu propósito é ultrapassar todos os meus medos e receios, conseguir segurar a minha empresa e a minha casa, ser mais tolerante, abnegar - porque prefiro estar há meses sem ver os meus próprios pais que tanto precisam de mim do que pô-los em risco, é receber cada uma das dificuldades que temos passado com calma, sem desesperar, avaliar cada uma delas e perceber o que está ao meu alcance para mudar a situação. 

Não. Não tenho conseguido. Estou diferente como pessoa. Estou mais tolerante. mas ainda entro em pânico com tudo e sim, ainda desespero a cada dia que passa sem receber encomendas, porque começo logo a imaginar que daqui a umas semanas já estamos falidos e os meninos não têm o que comer. O meu Sentido são eles. E só. E isso inclui o meu marido, meu melhor amigo, companheiro de viagem. E inclui não perdê-lo, lutar por esta relação como luto pela empresa e consequente subsistência dos meninos. É igual. Esse é O sentido no mundo que viramos do avesso. Eles, o meu núcleo. Mas, antes deles... eu. Porque se ficarmos todos sozinhos, é connosco próprios que teremos de viver para sempre. 

O Sentido é este: fortalecer-me como pessoa, como ser Humano, crescer, ser melhor do que era antes disto tudo, para depois conseguir segurá-los a todos no meu colo de Astronauta, sempre. 

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