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A xalupice continua: a importância de pensar antes de cuspir tudo o que nos passa pela cabeça cá para fora!


Há muito tempo que não vinha ao blogue escrever. A vida corre muito depressa e existe uma estranha tendência na minha vida, especificamente, para uma espécie de acumulação de coisas. Coisas que vão ficando para depois porque se trabalha no desgaste e em contratempo e, a escrita, com grande pena minha, é uma delas.

Hoje não resisti em parar 10 minutos para partilhar que, ao fim deste tempo todo, há coisas que não mudam... por muito que nos esforcemos. A xalupice é uma delas: uma das condições que nasce connosco e não vale mesmo a pena tentar alterar.

Sou uma pessoa responsável, trabalhadora, esforçada, e esta xalupice não faz de mim menos confiável... mas confesso que se esta pandemia me ensinou a ser um nadinha melhor pessoa, não curou em mim esta insanidade. Contrariamente.

Há uma semana dei conta que todas as minhas sandálias estavam demasiadamente gastas, os ténis velhos e rasgados e, como sabem, sou das pessoas mais forretas deste mundo! Qual tio patinhas! Não havia hipótese. Tinha de comprar um par de ténis. O trabalho iria recomeçar, com visitas a clientes e de ténis rotos estava fora de questão. Lá comprei uns ténis...

Ontem cheguei a casa e como continuo a fazer desde o inicio disto tudo, descalcei os ténis à entrada. Desinfectei-me. Faltavam apenas uns minutinhos para uma reunião zoom que ainda tinha as 20h.

Comecei a tratar do meu jantar porque o deles já estava feito de véspera, e reparo que o meu par de ténis está pendurado no parapeito da janela da cozinha. Um velho hábito do meu marido que tudo lhe faz confusão e que, como tal, afirma que todos os sapatos (menos os dele) cheiram a chulé!

Nem liguei. Há que respeitar as pancadas de cada um. O tempo passou num instante e liguei o zoom as 20h em ponto. Era uma reunião informal e fi-la na cozinha mesmo, à janela. A minha naturalidade foi, por conseguinte, tamanha, que não dei conta que o meu querido par de ténis novos já ali não estava. O meu marido é top e pensa em tudo e provavelmente teria retirado o par de sapatos dali, antes que eu ligasse a câmara.

Hoje acordei, preparei tudo, fiz a rotina normal diária e, quando vou a sair de casa com marido e filhos, vou direita a sapateira da entrada. Ténis, que é deles? Volto à cozinha e ténis... nada. Comecei a suar e sentir todo um turbilhão de sentimentos muito beras a subir por mim acima.

Já prevendo que os ténis teriam obviamente caído para o pátio comum do condomínio - maldita mania do chulé no parapeito, quando temos uma varanda que dá para uma sapataria inteira - perguntei então, claro, ao marido, onde estavam os meus únicos sapatinhos (novos). Percebi em menos de 2 segundos pela sua expressão de pânico que indubitavelmente a minha previsão estava mais que certa.

A ferver de raiva, dirijo-me à cozinha e espreito pela janela. Só salvaguardar que toda a vida nos caíram peças de roupa janela abaixo e, por hábito, as pessoas simplesmente não mexem. Se mexem, colocam as ditas peças ou objectos no interior do prédio, na entrada, para que os donos "lesados" se sirvam ao entrar. Nunca na vida desapareceu coisíssima nenhuma neste prédio. Mas, os meus ténis novos, os únicos ténis que eu tinha para calçar sem ficar com o dedo mindinho de fora à mitra, não estavam no pátio. 

Corri para a porta de casa já de máscara e desci. Nada. Em nenhum patamar do prédio, em nenhum recanto, em nenhum, absolutamente nenhum lugar habitual... os malditos ténis novinhos em folha desapareceram. E obviamente foram roubados por serem novos.

Ainda que me tenha tentado conter não fui capaz. Eu gritei, esperneei, praguejei, chamei inconsequente e irresponsável ao Pedro. Não dá para perceber estas manias! Que egoísmo. Os dele nunca se penduram no parapeito, claro! Os dos outros sim! Até porque se desaparecem, que se lixe.... são dos outros...

Calcei as sandálias de sola rasgada, meti-me no carro e avisei logo: hoje não vou contigo à reunião. Esquece. Recuso-me a ir neste lindo estado de sandálias rasgadas. 

Fui a morder entre dentes coisas que ficam apenas para mim, até ele me interromper: fogo... esqueci-me do telemóvel em casa. Claro que esquecera o telefone em casa, porque é irresponsável. E depois de tudo isto, ainda íamos atrasar-nos, com as duas crianças para deixar em locais distintos. Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Raios partam isto!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Voltamos para trás com a maior rapidez do mundo. Esperei nem 4 minutos que ele subisse e voltasse a descer. E, eis senão quando, o vejo aproximar-se com uma expressão muito dele no rosto. Aquela expressão que diz: tens uma sorte do catano, porque se fosses casada com outro marido qualquer já estavas sozinha, oh minha grande tarada da cabeça!!!! E sim... como vocês já devem calcular, ele trazia o telemóvel e o meu par de ténis.

Entrou no carro e estivemos mais de 10 minutos a discutir qual de nós, completamente exausto mentalmente, tirou os ténis antes da reunião para cima de uma cadeira. E qual de nós, pior que o outro, senão foi o mesmo, colocou uma mala de senhora vazia por cima dos ténis, escondendo-os completamente da vista de qualquer pessoa normal.

Até  hoje não sei se foi ele, se fui eu. Mas 18 meses depois do início disto tudo, estamos assim... ou continuamos, melhor dizendo. Conselho: pensem sempre antes de falar...

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