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Faz-te à vidinha!

Nos últimos tempos tenho tido a sorte de encontrar algumas pessoas com formação em desenvolvimento pessoal e coaching. E isto faz com que, repentinamente, dê por mim a rever uma série de coisas no meu dicionário de vida.

Há uma coisa tramada para todos nós, que se chama ego. O ego é uma espécie de lugar onde nos reconhecemos. Na verdade, o ego é um ponto de partida, uma ligação entre o que temos cá dentro e o que existe lá fora. Ele lida directamente com os estímulos do exterior, forçando-nos dentro dos seus conceitos base, a reagir de determinadas formas. 

O ego é, para mim, uma caixa cheinha de conceitos e verdades que vamos criando, aprendendo, formatando e guardando como linhas mestras de acção, de crença, de comportamento e atitude. O ego é uma seca. Dei um nome ao meu e falo com ele. Mando-o calar imensas vezes. Sabem porquê? 

Porque à medida que vou conhecendo outras realidades, outras formas de encarar a vida, percebo que mais de metade das verdades que o ego me grita diariamente, me afastam a largos passos daquilo que eu preciso para ser feliz. Por conseguinte, o ego é para mim um viciado na cocaína das verdades nada verdadeiras que vamos adquirindo ao longo dos anos.

Sempre que tentamos contrariá-lo, o ego comporta-se pior que uma criança mimada e mal criada, procurando sentir-se seguro no seio daquilo a que está habituado, e tentando entre lágrimas, dizer-nos que a mudança e a substituição de rotinas não são nada boas para nós. Simplesmente, porque para o ego, se assim não for, não somos nós.

Como comecei por dizer, tenho estreitado relações com alguns técnicos de coaching e desenvolvimento pessoal. E este processo tem sido doloroso para mim. Porque sempre que tento fazer diferente, o ego faz uma birra e eu, tal como faço com a Maria e com o Miguel, cedo. E volto aos padrões, teimosamente, arcando, a posteriori, com as malditas e nefastas consequências dos padrões que teimo não abandonar.

Não queria que este post fosse uma seca. Mas sei que como eu, há dezenas, senão milhões de pessoas no mundo. E, por isso, faz-me sentido referir aqui que, reprogramar a linguagem dos nossos pensamentos é a chave para que eles comecem, efectivamente, a mudar. O ego vai bater o pé, gritar.... mas se o contrariarmos, se o obrigarmos a assumir como novos padrões as linhas de pensamento, as atitudes, as crenças, os hábitos que nos fazem felizes e que queremos, de ora avante, que guiem a nossa vida... tal como acontece com os miúdos que não querem dormir sozinhos nos seus quartos, o ego irá acabar por ceder. E, às páginas tantas, já não custa, já não dói, já não dá aso a uma valente birra que nos põe de cabelos de pé.

Comecemos por coisas simples. Foi-me diagnosticado há 14 anos um distúrbio alimentar. Ele já assumiu diversas formas. Já foi uma bulimia não purgativa, uma anorexia, uma bulimia purgativa e, agora, um transtorno de compulsão alimentar. Quando me diagnosticaram esta patologia, explicaram-me que ela tem origem no foro psicológico, como qualquer outra doença mental, e que proviria da infância, da construção do meu eu, do meu auto-conceito, da minha estrutura de auto-estima entre uma série de outras coisas.

A realidade, é que eu interiorizei a patologia como sendo minha. Como fazendo parte do que sou. E eu já não sei ser sem ela. Tenha ela o estágio que tiver, num momento ou noutro. Ou estou obesa, ou estou à beira do internamento por sub-nutrição. Porque faço sempre o mesmo padrão comportamental, assumindo que aquilo é o que me define e, fora daquilo, eu simplesmente não sei ser.

Há 14 anos. Cheguei aos 38 recentemente. E percebi que não dá. Que não quero viver com isto o resto da minha vida e, por tal, faço questão de por um termo a esta brincadeira. E para isso, todos os dias eu recomeço o jogo do esconde-esconde com o Sr. Ego. O jogo do "vou fazer diferente", do "esquece, não vai resultar", do "na.... quem manda sou eu", do "vai custar-te quando perceberes que falhaste outra vez" e do "ok... começamos amanhã". 

Todas as pessoas com quem tenho privado e que têm acompanhado este meu quiproquo me dizem exactamente a mesma coisa de formas diferentes: enquanto não fizeres diferente, nada vai mudar. Não vale a pena queixares-te dos vários planos da tua vida que correm mal, que fogem ao planeado, porque todos eles são o espelho da tua própria pessoa, da tua intervenção, do estado de alma em que te encontras. A energia que dedicas à relação familiar, profissional, seja ao que for, vem de ti, de dentro. E se não arriscas fazer diferente, a energia reflectirá os mesmos padrões. Logo, os resultados que queres atingir nunca chegam, os problemas que queres evitar continuam a aparecer, cada vez mais graves, mais duros de ultrapassar.

Então, a ideia é: custe o que custar, nesta vida, só nos lembramos de estar uma vez. Viemos com uma missão. Com um objectivo. O de sermos felizes. Logicamente que temos de ponderar os passos que damos, rumo a essa felicidade, não só para não os darmos em falso, perdendo tudo. Logicamente que, além do mais, temos de ponderar os mesmos passos para nunca magoarmos gratuita e desnecessariamente quem está à volta. MAS!

Enquanto não focamos o resultado que queremos atingir, enquanto não acreditarmos que sim, o sol quando nasce é mesmo para todos, enquanto não mentalizarmos que aquela é a meta que pretendemos cortar e, acima de tudo, enquanto não percebermos que estamos efectivamente dispostos a sofrer o que for para lá chegar... NADA VAI MUDAR.

Então, saiam do jogo do "começamos amanhã", porque amanhã o raios parta do ego arranjará uma nova forma de vos convencer que a cepa torta é o lugar ideal para vocês. Porque é desconhecido um outro lugar qualquer, porque custa horrores forçar a mudança e reestruturar toda uma vida de crenças. Comecem hoje. Como alguém me ensinou, não começamos do zero. Porque já caímos tantas vezes que alguma mudança se deu, alguma mensagem ficou. Aprendemos. E, portanto, não será do zero. Mas comecem. De uma vez. 

Se não te fizeres à vidinha, a vidinha faz-te a ti. Lembra-te: estás aqui para ser feliz!

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